Revista Helanca

(edição Vinícius Lopes)





Stone
Zzzzzz
Branco
Perdido
Cazzzzzarão
África
azzzzzedo
Quadro
E pai neles
Deteriorazzzzzação
Quadrada
Sub solo
Começo do chão
Ferro
Escuro
Forte
Buraco
Concreto
Correntes
Escravos
Amontoados
Toados
Sorrizzzzzo
Azzzzzzzedo
Precizzzzzzei sair
(André Farias) 

era gosto!

um gosto seco por se enroscar
um gosto seco por um sem saída
três viraram um
um virou teia
um-teia
teia-um... em ondas... partiu!
...
e voltou como rio em correnteza! ou era mar de arrebentação?!
água!
gira!
torce!
...
rodopios!
a romper em RIsO solto!
(Beatriz Franco)




Da escrita pra dança...
"S-ton-e town"... ilha africana... con-funde Mar, con-funde areia... alheia, pisada...
Perder-se num labirinto dançante... com um guia...
Chegar a um Porto... pouco conhecido... cheiro azedo... uma casa estranha, nada ou muito familiar...
Manchas compondo uma decomposição...
Marcas de uma história arbitrária...
"Qua-dra-da"... casa que apressava e precipitava... "precipícios"? Ralos... partes pelo chão... como abrir-se? Como entrar com o "pé direito" aí?
Andar às cegas... na escuridão, num breu, num banco... con-creto, com-teto, com-primido, comprido... con-testo...
Amontoados... acorrentados... deitados...
Estranho riso... qual saída possível?
O que "porão" aí?
...........
Casa avarandada... com eu-caliptos... sabor amar-go... lugar estranho... com pisos, com passos diferentes... exigem novos arranjos...
O horizonte é verticalizado por um outro que se apossa e dá limite...
Mas há sempre um telhado furado... uma janela que não fecha bem...
E pelos desarranjos, encontro brechas... cantinhos de afeto... asas e pouso...
Uma c-asa com discos de vinil... mas que "toca" muitos outros "CANTOS"... canto de uma ponta a outra... nos ritmos e des-com-passos... me (re)encontro...


Da dança pra escrita...

(H)ela... Ela dança... É-la-a-dança...
Tropeça... pende... força... suporta... "segura as pontas"... pra não cair, pra transpassar, para atravessar, para dançar... pra emba-lar...
"Vou procurar... e vou até o fim...", Frejat, lá ao fundo, de relance, se embola e me embala... me acha... eu aqui... segurando as pontas... inabalavelmente sem fôlego... repito, insisto, ex-isto...
Me lanço, Me en-laço ... me solto!
.........
Vôo... vago...vaga...rasga...
Torce... retorce... contorce...
Contorna...
Puxa... estica... não pára...
Corre... es-corre... es-correga...
Como um córrego,
Deixa passar...
..........
Renato "Russo"... russo, que roça nos nossos ouvidos ao longe e "invade" a cena dos corpos dançantes... traduz e introduz a lembrança do horror estrangeiro... em língua materna...
Invade os corpos... tortos... abalados... balas... valas...
"E destes dias tão estranhos
Fica poeira se escondendo pelos cantos
Este é o nosso mundo
O que é demais nunca é o bastante
E a primeira vez é sempre a última chance
Ninguém vê onde chegamos
Os assassinos estão livres, nós não estamos (...)
Voltamos a viver como há 10 anos atrás e a cada hora que passa envelhecemos 10 semanas..."
......
Para-noia, nó que pára,
Nó de trevo...
Me atrevo a dançar... giros, piruetas,
Por cima, por baixo, eu teço...
Me esqueço e me so-lto.
(Isabela Ledo)

Era uma terra roxa
que quase se confundia com a temperatura
quente. Perto.
Tão perto que quase nao podia se ver
a amplitude labiríntica daquela
casa-lugar.
No subsolo - entre
o ralo e o que vem antes dele
Entra!                              Bem ali a luz advinha
Debaixo, tímida, ela se deixava chamar. A luz
que revelava toda a escuridão daquela
Terra-roxo-sangue
Rocha.

Ali habitavam os encontros
Esses que entram e saem por cantos
Inimagináveis.
Antes era famili-ar
Estranho era por onde brotavam as pequenas conversas
brilhAntes.
Agora é estranho a família que diz -
Isso não é seu!
Esse piso - pequeno, brilhante. Vermelho, fogo
Toca os pés e também os Beatles
Na vitrola.
Isso não.
Isso não é
Seu?
Atraves-sa
Atrás se vê o osso, dentro
Sob a pele-pano
Entre-vê
Entre o corpo e o véu
Suss urros ssilêncios
Elaaa           sticaaaaa
E lá?
Hell      anca         E...
Lança!
E  tr  ança
(Mariana Angelini)

e lanca
nao est ou
(chamo vini abro um vino)
leio palavras de-partidas
chao lug ar favor ito
tudo comeca no des encontro
des eu canto
(Aline Fiamenghi)

uma casa
             quadrada                  
  entre O zero, o 1
de fora a janela
             de dentro
em pé como as colunas
     silente afro ntar
memória de além-mar
          ancestre




{começara pela crista ilíada}
amorada


investir contra o ar
(acaso as folhas secas destes versos far-te-ão parar, respiração opressa?)
quem aqui ao menos um dentre nós soprará elã...cá



algumas janelas não fecham bem
      a vista não se acostuma
(eucaliptos a se perder)
uma casa que já foi
                      não é
                              mais



tios na varanda

jipe na estrada
e o coração lá
(Mariana Castro)

uma cidade longe

uma memória de ondas

em ondas, areias

terra - aterrar

enterrar essa memória
esse espaço de vida
esse escape de morte
um corpo preto
na casa soturna atrás
de um espaço vivo
com a rapidez de uma palavra,
a fala trava
o espaço grita
a transitoriedade do tempo
a deteriorização da matéria
a notícia desprezada
o corpo morto
a luz viva o espaço traço
a fluidez estancar
a fala trava
a corrente amarra corpos amarra gente e
amarra a gente em
névoas de memórias
vividas, com corpos vivos
viver,escapar, respirar
escapar, sair, correr
ir em direção ao mar
.......,
morada temporária - se entra
se fica, se encontra
entrar pela janela e sair
pelo telhado tudo se esvai
no horizonte
um estranho que se mergulha braçadas a esmo em
um espaço vazio
é preciso saber entrar
para poder sair - ir embora
para poder ficar calmo
relaxar para o corpo fluir
sons entrando nesse espaço oco, sem fim
ondas de ventos abraçando
as paredes
os ladrilhos
as janelas
o horizonte sem fim
.....
ondas, ondulação que o som traz
entrar na sintonia
sentir o traçado
correnteza girar
ver andar
caminhar na grama
verde cinza
pesar pisar correr
partir - repartir
Re partir
puxar a vida
colocar o corpo na dança
será visível
será possível?
.....
cair se deixar levar
tenho a tentativa de que escape poder andar livre
em um país que se prende
que se mata que se joga
no rio
quero respirar sair ver
o céu
sentir o chão - com as mãos
que o cheiro desse lugar
perdido seja saída
a corrida contra o vão
contra a terra
contra o ar
torcer enlaçar
saltar soltar
o ar
respirar
ar
vida
um céu para mirar
uma noite para
sonhar
(Caroline Mortagua)

Vini em Zanzibar

em Zanzibar
zanzei
perdido em Zanzibar
no mar azul
o porto
porto último
azeda casa
em Zanzibar
Bárbara casa
sobre o mar azul
museu azedo
em Zanzibar
quadrada casa
último porto
vida perdida
engolida no mar azul
porão de Zanzibar
casa escura
Kalunga dura
quadrado caixão
na azeda casa
no perdido azul
na muçulmana
Zanzibar
ancestral
não
........,
casa de entrares
encontro na varanda da
janela torta
lajotas mais
outras menos
mas lajotas
vermelhos no chão
sombras e cheiros de pão
na memória viva
a casa está lá:
a criança correndo
chegando
no nunca mais
.........
no dentro do dentro do dentro
no centro no ovo
o novo
grita o novo
gira o novo
no centro
no dentro
no antro
do ovo
grito de povo
.....
na asa do tempo
brinca a menina
onda que vem
ciranda e gira
na onda que vai
no tempo em que
guerra
era puxar o pano
uma de cada lado
(Conrado Ramos)

areia branca, labiríntica
guia-casa, em porto fechado
concreto grande, azedo
estranha parte, a mancha
pressa branca, sem conversa
entre o zero e o um
entre o subsolo e o chão
os ferros escondidos de nossa
era
a janela,


                          sempre de dentro
sempre de dentro
                          sempre de dentro
sempre de dentro


olhar que não (im)porta o fora
os restos da história
ali, no buraco escuro
o teto baixo


                                a
                                          b
                                          a
                                          i
                                          x
                                          o

e, cabisbaixo,

apenas s(c)
                       a
                                i
                                          o

um contrapelo,

sem ensaio


...........

é possível desfazer o rodear do tempo?

o não pertencimento da memória?
o ajustamento do rodapé?
frondosa sombra térrea
                                
                                                                             um pulo

onde se está?


........


esperneio

espremido
no meio

.........


asas rodopiam

e saem
só ... procurando... c
elu lar

.........


um te(r)cido caído

o chão, sob o pano
planta folhas secas

(ana gianesi)


POEMA 1 De cá para lá
Branco do mar
Pele preta no porto
labirinto, perdas
O casarão de Belonisia e Bibiana- Torto Arado
Por trás dos painéis as manchas, as marcas, os escombros
Janelas no chão, cheiro de ralo
Entre 0 e 1 a janela que ilumina o fora
Ao fundo, o som do buraco evoca um lamento, ai, quanto lamento!!
Fujo!


POEMA 2 De cá para lá
Casa labirinto
Escape rooms
Portas, dobradiças, detalhes geométricos
Ruínas, passado remoto
Escavação, o pomar frutífero
Casa desocupada? Um resto de som.
POEMA 3 De lá para cá
FIM DE FESTA I WANT TO BE ALONE.
Ops! Vou, não vou. Titubeante chego até a praia. O mar cura ressaca! Onde me engole, devora, te abraça, nos abraçamos. Vou para o fundo do mar, não quero sair de lá. Perco você. Nos conhecemos de onde mesmo?
Luto com o balançar das ondas, penso em submergir, respiração ofegante. Tento um ar na superfície, agora não dá mais.
POEMA 4 De lá para cá
BATUQUE NO CASULO! Não quero nascer! Batuco lá dentro, espreguiço e saio lentamente, muito de má vontade.
Sacode a poeira, enlaça a história, gangorra, alternância.
Leveza sem fôlego e corrida Cumplicidade. Finjo morrer, o tempo me acorda e o depois é sonho.
(Claudia Clementi Fernandes)